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CRÓNICAS E ENTREVISTAS
EM BUSCA DE MAIS PAIS JARDINEIROS
Publicado em: 01/10/2016
Os pais carpinteiros que querem moldar os filhos, como quem esculpe um tronco, são tóxicos. Garante a avó Alison Gopnik, uma das maiores psicólogas do desenvolvimento infantil.
Já chega de pais carpinteiros, pais que tentam moldar os filhos como quem transforma um tronco de uma árvore numa cadeira. É mau para os pais e é mau para os filhos, para não falar nos avós, que ficam com o coração feito em fanicos a assistir a tudo na plateia. Não fui eu a autora desta fantástica alegoria, que pertence a Alison Gopnik, uma mais do que famosa psicóloga do desenvolvimento, barra filósofa, barra mãe de três rapazes e mais recentemente avó, mas subscrevo. Assino as vezes que for preciso, aliás.
O seu livro “The Gardener and the Carpenter” (ainda sem tradução em português), é um manifesto contra a ideia de que ser pai e mãe é uma profissão, uma carreira. Que, como todas as outras, exige qualificações próprias e terá tanto mais sucesso quanto mais for exercida com perícia e técnica. Partindo do princípio de que a criança é passiva, o que passa a importar é a eficiência dos educadores. É que se tudo depende de como dorme, come, se senta à mesa, que escola frequenta, as notas que tem, quantas línguas fala e por ai adiante, é compreensível a urgência de uma vigilância de 24 horas sobre 24 horas, mesmo que os resultados só se vejam dali a vinte anos.
O pior é que esta obsessão pela “boa” parentalidade – porque se há uma técnica certa de criar filhos, tem de haver uma errada –, provoca um sofrimento imenso nos pais, que se sentem sempre a falhar, sempre réus num tribunal popular. Para não falar nos filhos, que supostamente justificam tudo isto, e que acabam, provavelmente, irremediavelmente “danificados.” Afirma Gopnik, e nós cá estamos para o testemunhar, como mães que fomos e avós que somos.
Mas talvez a maior ironia de tudo isto, afirma a avó que faz panquecas para os netos, nos intervalos de dirigir um dos mais proeminentes laboratórios de desenvolvimento infantil do mundo, é que esta corrente de educação está completamente à revelia do que nos diz a ciência. “A nossa missão não é moldar as mentes dos nossos filhos; é deixar essas mentes explorar todas as possibilidades que o mundo lhes permite”, diz. É, afinal, deixarmos a carpintaria e tornarmo-nos jardineiros. Os jardineiros não imaginam que fizeram as couves ou as rosas como elas são, mas tratam-nas e regam-nas para que cresçam fortes e saudáveis. Sabem, também, que provavelmente não vão crescer como imaginaram, que o diga quem já viu as papoilas despontarem do lado contrário aquele em que as plantou. O que os pais jardineiros fazem, defende, é criar um espaço protegido e seguro onde as crianças podem brincar, testar e explorar, tornando-se nelas próprias. Onde podem observar os adultos, perceber que também erram, aprender a viver em comunidade, sem que lhes “orientem” todos os momentos da vida. Decididamente, precisamos de mais jardineiros.
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