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CRÓNICAS E ENTREVISTAS
A CORAGEM DE NOS ARRUMARMOS POR DENTRO
Publicado em: 01/01/2017
Querem ser melhor pais do que os seus pais. Felizmente. Mas não chegam lá pela corrente de educação A ou os ditames do psicólogo X. Porque educamos pelo exemplo.
Marta adora histórias. Vai buscar livros e trá-los para o sofá onde me entrega um, e fica com o outro. Recusa o colo, e quer ser ela a ler, em lugar de se aconchegar e escutar. Pela simples razão de que como filha terceira, imita as irmãs, e as irmãs estão tão contentes com o dom da leitura que se sentam, cada uma a seu canto, com um livro nas mãos — ou seja não quer ser mais “bebé” do que elas, embora tenha pouco mais de um ano e meio.
Segue-as como uma sombra, repete as palavras que as outras dizem, ri quando elas riem, sem fazer ideia de porque riem, trepa para as cadeiras mais altas para chegar ao quadro de ardósia que voltou a ser pendurado na parede (pertencia à tia Madalena), recusa a comida se elas, por algum acaso, dizem que não gostam disto ou daquilo, num incansável esforço por acompanhar o passo.
Por outro lado, a relação dos pais com a Marta também não se cose pelas mesmas linhas do que se cosia quando foram pais pela primeira vez, e de gémeas, já há seis anos. São mais experientes e sábios, mais autónomos em relação aos palpites alheios (inclusive os dos avós), muito mais confiantes. E, simultaneamente, já não educam sozinhos, porque têm dentro de casa, para o bem e para o mal, duas auxiliares educativas a tempo inteiro, a Carmo e a Madalena.
É uma ilusão imaginar que se é pai e mãe da mesma maneira para todos os filhos, independentemente da personalidade de cada um e da sua ordem na frateria, como tão ingenuamente os pobres pais pretendem, temendo amar mais um do que outro, ou de favorecer algum em detrimento de terceiros.
Mas, se calhar, tudo isto só fica evidente quando nos tornamos avós, e o resultado da educação que imaginámos dar os nossos filhos, está patente naquilo em que se tornaram, a que se soma o bónus de, quais exploradores da National Geographic escondidos atrás de umas ramagens, podermos observar o crescimento dos nossos netos.
De que fica a certeza que a educação se faz antes de mais, e acima de tudo, pelo exemplo, e se o dos pais não é exclusivo, ocupa um distinto primeiro lugar. Os filhos não serão disciplinados, se os pais não o forem, nem tão pouco verdadeiramente bem-educados se os pais espontaneamente não o são, e será difícil que não se tornem invejosos, se os pais invejam tudo e todos, nem honestos se vêm a ética tratada lá em casa como um bem de segunda necessidade... Da mesma forma que sem que aparentemente tenham feito nada por isso, nem gasto o latim em sermões, as suas qualidades surgirão espelhadas na sua prole.
Mas se assim é, porque abraçam os pais, tantas vezes com verdadeiro fanatismo, a corrente de educação A ou B, os ditames do pediatra ou do psicólogo X ou Y? Porque, felizmente, querem ser melhores pais do que aquilo que os seus pais foram, como também nós quisemos, evitando os erros que lhes custaram caro, poupando-os ao que os fez sofrer, corrigindo o que imaginam ter sido a origem dos seus problemas e dificuldades, estimulando-os a irem mais longe... Mas o paradoxo é que só o conseguirão fazer, transformando-se primeiro a si próprios, arrumando-se por dentro, caçando os fantasmas que lhes povoaram o quarto de brinquedos, entendendo o que os fez sofrer e porquê. O que dá trabalho, reabre feridas e guerras passadas, mas para que depois sarem de verdade, deixando-os mais livres e confiantes para serem os pais que sonham ser. Mas é claro que aqui, como com em tudo o resto, também só será assim, se os seus pais lhes derem o exemplo.
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