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CRÓNICAS E ENTREVISTAS
FUJA DE CHEFES INDECISOS
Publicado em: 14/03/2018
Um chefe que arrasta uma decisão semanas e meses sem ser capaz de nos dizer se é para pegar ou largar, é como andar indefinidamente a jogar ao "Mamã quantos passos", sem qualquer possibilidade de ganhar.
Não faço ideia porque é que há pessoas que tomam decisões facilmente e sem sofrimento, enquanto outras transformam a mais pequena tomada de decisão num calvário. Para elas e para os demais.
Às vezes quero pensar que os que perguntam, hesitam, pedem mais informação, pensam de novo, hesitam mais uma vez, solicitam novos dados e, de seguida, voltam à estaca zero, como se nada tivesse acontecido, são apenas pessoas cautelosas, profissionais cheios de brio que temem prejudicar a empresa com uma decisão mais apressada ou irracional.
Outras vezes, nos momentos em que me sinto menos generosa, desconfio que são simplesmente cobardes, incapazes de assumir uma decisão por medo das consequências. Nesses dias, em que a minha falta de caridade cristã escandalizaria a minha querida mãe, sobretudo em tempo de Quaresma, desconfio que empurram a decisão para o colo alheio. Para depois ninguém os poder acusar seja do que for quando as coisas correrem mal, e se correrem bem, há sempre tempo de reivindicarem os louros.
Há ainda alturas em que me metem pena, porque parecem genuinamente esmigalhados sob o peso da tomada de decisão, oprimidos pelos escrúpulos de males que imaginam ir causar, certos de que a mais insignificante escolha corresponde ao carregar de um botão nuclear.
Se me der para aprofundar a mente intrincada desta gente, chego há conclusão de que há indecisos e indecisos. Por exemplo, os que são tão perfeccionistas que acreditam, sinceramente, que se pensarem e pensarem vão chegar à escolha perfeita; os que de tão inseguros de si mesmos vivem aterrorizados que toda a gente descubra que são impostores, e há ainda aqueles que imaginam que se esperarem mais um bocadinho, só mais um bocadinho, uma solução muito melhor vai cair dos céus aos trambolhões.
Obviamente a pergunta que realmente se impõe é: "Mas por que raio teve alguém a brilhante ideia de promover um indeciso, por natureza ou por convicção, a um lugar de decisão?" Bem vistas as coisas, para o que aqui importa, o problema é basicamente esse. É doloroso ter amigas que nos perguntam vinte vezes por dia se devem ou não devem acabar com o namorado, como se não lhes tivéssemos já dado opinião sobre o assunto? É, sim senhora. É difícil aturar um filho que todos os dias nos faz perder o comboio, porque está frente a um espelho incapaz de se decidir pelo que vai usar? Sem dúvida. Mas um chefe que não toma uma decisão, que arrasta um processo durante semanas e meses sem ser capaz de nos dizer se é para pegar ou largar, é como andar indefinidamente a jogar ao "Mamã quantos passos", sem qualquer possibilidade de ganhar.
O mais grave é que de nada vale explicar a estes indecisos que decidir é sempre escolher, e que escolher é sempre perder alguma coisa, porque isso só os vai deixar mais nervosos, mas talvez alguns deles, ou pelo menos os seus superiores, reajam ao argumento do custo-benefício de uma decisão. Ou seja, se valorizarmos o custo da hora do seu processo de (in)decisão com o que se vai ganhar com o resultado dessa decisão, pode ficar preto no branco a ineficiência do decisor. Infelizmente, os comportamentos não se mudam com demonstrações de lógica, por isso enquanto implementa e não implementa um "crowdfunding" para mandar o chefe à terapia, tome você a decisão de fugir dele o mais depressa que puder.
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