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CRÓNICAS E ENTREVISTAS
ESCOLA EM PORTUGAL: NINGUÉM PENSA NO CLIENTE!
Publicado em: 11/04/2018
A eterna discussão dos concursos de professores exige dos políticos mais honestidade intelectual. Não era má ideia que se começasse a pensar em função do cliente.
O país assiste de boca aberta à milionésima quarta discussão sobre concursos de professores, nas suas mais diversas variantes. Chegámos a avós e nada parece ter mudado, depois de termos passado a infância e a adolescência dos nossos próprios filhos a ouvir falar deles ano sim, ano sim. Inevitavelmente, há sempre qualquer coisa que falha num sistema que fundamentalmente nunca é pensado em função do cliente.
Depressa surgem os professores injustiçados a abrir o telejornal de cartazes em punho a acusar o ministro ou a ministra do momento, o inefável Mário Nogueira debita a lição, num tom mais ou menos acintoso conforme a cor do governo do dia, mas sem que ninguém se pergunte porque é que há uma eternidade é colocado na mesma vaga, e o Ministério forma comissões de inquérito para concluir que o problema foi de um computador, de um algoritmo, de um formulário mal redigido, ou de uma qualquer alteração nos requisitos, com o detalhe de que não avisaram os interessados.
Os partidos da oposição, sejam eles quais forem no momento, reagem como virgens ofendidas, como se nunca nada do estilo tivesse acontecido quando eram eles a mandar; como se não soubessem que este sistema central de colocação de milhares de professores, seja em versão interna ou externa, não é nem eficaz nem eficiente. Esquecem até que prometeram revê-lo, para permitir às escolas uma participação maior na escolha dos docentes que as integram.
Quem olha de fora observa, então, as mais incongruentes alianças, numa tentativa de nos levar a crer que, subitamente, a paixão pela educação os sufoca a todos. Assiste-se mesmo a alguns ex-ministros e ministras da Educação, e ex-primeiros-ministros e primeiras-ministras a reagirem como criaturas desmemoriadas, amnésia ainda mais indesculpável quando lhes bastaria um Google do seu nome + concurso de professores para refrescarem a memória. Muitas vezes nem se lembram das entrevistas que deram e dos livros que escreveram em que confessaram o desespero com aquilo com que se depararam no malfadado 13.º andar da 5 de Outubro (anunciam mudança de instalações a ver se o azar se acaba). Quem os oiça agora fica a saber que, afinal, é facílimo distribuir professores, há lugares que chegam e sobejam para todos, as equipas pedagógicas funcionam perfeitamente com mudanças anuais, em lugar dos quatro em quatro que, eventualmente, até foram os próprios a implementar, e que o que importa é começar tudo do princípio.
Muito sinceramente não faço ideia de qual teria sido a melhor forma de resolver este sarilho, que promete deixar todos descontentes, mas não tenho dúvida de que os partidos e os políticos não podem ambicionar o nosso respeito enquanto tratarem a honestidade intelectual com tamanha displicência. Fico à espera do dia em que um ex-ministro da Educação se chegue à frente no momento concreto de uma crise como esta ou, quem sabe, aquando da próxima greve convocada para as datas dos exames do 12.º ano, e se declare solidário com o ministro da Educação em exercício, sobretudo se não for da sua cor política.
Talvez a partir desse dia os alunos deixem de ser invisíveis, o elo mais fraco de uma luta que esquece sempre o cliente! Talvez passe, finalmente, a ser ele a prioridade do ensino em Portugal.
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