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CRÓNICAS E ENTREVISTAS
QUANDO OS PAIS CRITICAM A CASA DOS FILHOS (E NÃO SÓ)
Publicado em: 22/04/2025
Em casa de quem não conhecemos bem calamos os comentários negativos, mas quando estamos em casa dos nossos filhos tendemos a achar que a nossa opinião/conselhos podem ser de alguma utilidade.
Querida Mãe,
Pequena questão… geral, nada particular, nem direcionada a ninguém conhecido, mas... porque é que as mães e sogras não conseguem entrar na casa de um/a filho/a sem notar todas as imperfeições? Porque é que se sentam na sala de Estar e a transformam numa sala de Observação, como se fossem falcões? Aquele rodapé não está lá muito bem limpo, o sofá está já muito coçado nos braços, ah, que engraçada a ideia de transformar a mesa de jantar num espaço de pinturas? Depois o escrutínio passa à cozinha, ao estado das panelas e, claro, às caixas plásticas sem tampa.
Querida mãe, imagine que até há aquelas que, enquanto a filha vai às compras, aproveitam para deitar fora todos os lençóis que não passaram no teste.
É geracional e fazem exatamente a mesma coisa em todas as casas, mas só comentam nas nossas? Ou será uma forma de vergonha alheia, e no fundo querem que a nossa casa reflita bem como fomos educados?
Talvez me engane, mas a ideia que tenho é que, quando um dia for visitar a casa dos meus filhos, das duas uma: ou vou reparar na desarrumação, mas sentir um alívio enorme porque já não desarrumam a minha casa; ou vai estar muito arrumadinha e vou vingar-me pedindo para tomar um duche e deixo-lhes a toalha no meio do chão, ou deixo abertos todos os armários da cozinha e espalho migalhas de cereais pelos sofás! Antes de me ir embora, vou deixar pacotes de leite no frigorífico, mas vazios, claro, e cereja em cima do bolo: as luzes ficarão todas ligadas!
Por isso, digam-me porque estão a perder tempo a julgar, quando se podiam estar a vingar?
Beijinhos!
***
Querida Ana,
Obrigada pela tua carta e por me fazeres rir durante meia-hora, o que, segundo todos os estudos, rejuvenesce e faz bem às artérias e ao coração. Agradeço-te também a oportunidade de responder à letra, na esperança de te devolver os efeitos benéficos de uma gargalhada, embora tema que possa acabar numa birra.
Então vamos lá por partes.
A) É verdade que a maior parte das mulheres (e também a maioria dos homens) observam atentamente as casas dos outros. Porque nos permite conhecer melhor as pessoas que lá moram, porque há um estilo pessoal na decoração que diverte e inspira e, muitas vezes, provoca inveja, mas inveja boa, do género “quem me dera ter aquele jeito para combinar cores!” ou “ainda bem que eles não seguem as modas e inventam — nunca pensei que cortinas às riscas ficassem tão giras!” Mas inveja também do conforto, do ambiente, da forma como é visível que quem ali vive vive feliz, de tal forma que voltamos para nossas próprias casas e pensamos, por exemplo, como são estúpidas as nossas obsessões com a arrumação, com a limpeza, com a cozinha, que às vezes tiram tanto tempo ao prazer de estarmos uns com os outros.
B) É verdade que julgamos, não vale a pena dourar a pílula. Em casa de quem não conhecemos bem calamos os comentários negativos, mas quando estamos em casa dos nossos filhos tendemos a achar que a nossa opinião/conselhos podem ser de alguma utilidade. É claro que, no fundo, no fundo, sabemos perfeitamente que não vão ajudar ninguém, mas não resistimos a dá-los na mesma.
C) É verdade que, da mesma maneira que estás sempre a confessar que os filhos adultos continuam a transformar-se em adolescentes quando entram em casa dos pais, também os pais continuam a entrar em casa dos filhos como dantes entravam nos seus quartos: decididos a pôr aquilo tudo em ordem! Por isso, sim, podes dizer ao mundo que essa pessoa que despachou os lençóis enquanto a dona da casa não estava sou mesmo eu!
D) Queremos ajudar-vos. Sabemos que a vossa vida não é fácil, com o trabalho e as crianças, e sem grandes ajudas. Por isso, tomamos nota daquilo em que podemos ser úteis — nomeadamente, a reunir as tampas que estão em nossa casa com as caixas que estão em vossa.
E) Aproveitem, em lugar de tomarem as coisas tão a peito. A vida é curta para tanta competição entre mães e filhas e sogras e noras, que afinal não é mais do que fazer a vontade aos “papéis de género” que nos foram inculcados. Deixem lá esse medo de que vos julguemos mais ou menos fadas-do-lar e tratem de perceber que só ganham em aceitar uns lençóis novos, um trem de panelas, uma aspiradela da sala ou uma roupinha lavada. Deixar que os outros se sintam úteis e parte da nossa vida só tem vantagens para todas as partes.
Mas tens toda a razão, a vingança que propões é muito mais divertida do que tudo isto, por isso, prometo doravante dedicar-me a ela com todo o afinco.
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