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CRÓNICAS E ENTREVISTAS
CHATOS DE SERVIÇO, NÃO DESISTAM!
Publicado em: 23/04/2025
É evidente que estamos a chegar ao fim do terceiro mandato do Dr. Basílio Horta e não era agora que se ia incomodar com esta questão, mas é preciso que quem lhe suceda não faça o mesmo jogo de ficar quieto à espera de vencer pelo cansaço.
O cérebro não gosta de coisas já vistas, foi feito para reagir à surpresa. Por isso é que quando alguém nos vem contar uma história que conhecemos, temos imensa dificuldade em fingir que é a primeira vez que a escutamos; é por isso que, sem investimento, os casamentos morrem; é por isso que facilmente nos tornamos indiferentes às guerras e às injustiças, que a certa altura nos parecem “mais do mesmo”.
Suspeito que à velocidade a que o mundo gira e em que, todos os dias, nos bombardeiam com mais informação e informação mais chocante e crua, os nossos neurónios passaram a precisar de doses cada vez mais altas de novidade para se sentirem estimulados. Paradoxalmente, talvez se tenham tornado preguiçosos — como as emoções lhes são servidas com muitas calorias e prontas a consumir, desabituaram-se de analisar a realidade com profundidade e persistência.
O pior é que os políticos e os governantes mais hábeis conhecem esta cartilha de cor e salteado, e aprenderam a usar a natural impaciência para com tudo o que não é novo contra os cidadãos. Por outras palavras, sabem que mesmo as queixas mais legítimas, quando muito repetidas, acabam por cansar e soar a disco riscado, com a assistência a pedir uma nova playlist. Percebem que basta que tenham a pouca-vergonha de não lhes prestar a mínima atenção, recostando-se na cadeira à espera que o queixoso desista, ou a opinião pública se canse, para que o problema acabe por desaparecer. É seguramente uma arte que se aperfeiçoa com o tempo e o treino, porque a princípio ainda deve restar algum brio profissional e sentido do dever para com os eleitores que leva à ação.
Um exemplo escolhido ao acaso: o que acontece a quem mora em Sintra e há décadas se queixa do trânsito absolutamente caótico no centro histórico, da falta de noção dos responsáveis camarários que parecem não (querer) entender que os engarrafamentos, o barulho, a poluição do ar não servem a ninguém, nem aos turistas, nem aos residentes, e que é um ultraje diário a um lugar Património da Humanidade?
Obrigado a repetir sempre a mesma ladainha — porque tudo permanece igual! —, torna-se num chato. E, como ninguém gosta do rótulo, é provável que acabe por se calar, com sorte até talvez vá morar para outro lado, que é tudo o que os políticos desejam, porque a partir do momento em que o tema deixa de merecer a atenção da comunicação social, fica a impressão de que o assunto foi resolvido. Mas o assunto não foi resolvido, o assunto está exatamente no mesmo ponto, e a incapacidade do governante ou, neste caso, dos autarcas, a sua incompetência, a sua falta de visão estão lá, só que deixaram de ser visíveis. Que é tudo o que lhes importa.
No caso de Sintra, tão certa como a Semana Santa é a Via Sacra dos pobres turistas que decidem visitá-la. Presos no trânsito (ainda mais) caótico, na sinalética demente, no perigo de serem esmigalhados por um tuk-tuk desgovernado, intoxicados pelos vapores dos gigantescos autocarros que mal cabem na estrada, impedidos de receber auxílio se sofrerem um acidente, pela simples razão de que as ambulâncias e as viaturas de socorro não conseguem chegar ao local, enlatados em transportes públicos que obviamente não circulam, saem de lá tão frustrados como ficam os moradores.
Pois, não é novidade, eu sei, o que significa que, infelizmente, os portadores das mesmíssimas notícias não têm outro remédio senão o de se assumirem como “Chatos de Serviço”, apelando aos outros chatos de serviços que não desistam, mostrando a sua gratidão — como manifesto a minha! — a jornais como o Jornal de Negócios, que se recusam a apagar da agenda os temas incómodos.
De novo Sintra. É evidente que estamos a chegar ao fim do terceiro mandato do Dr. Basílio Horta e não era agora que se ia incomodar com esta questão, mas é preciso que quem lhe suceda não faça o mesmo jogo de ficar quieto à espera de vencer pelo cansaço.
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