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CRÓNICAS E ENTREVISTAS
FÉRIAS GRANDES: FICÇÃO VS REALIDADE
Publicado em: 03/06/2025
“Planear férias e antecipar a felicidade é muitas vezes a melhor parte.”
Querida Mãe,
Tenho saudades do verão, das férias, de fugir desta rotina que se torna sufocante.
Este final do ano escolar é sempre tão difícil, estão todos — tanto os professores como os alunos, para já não falar nos pais — tão cansados e fartos, tão prontos a fazer birras ao menor pretexto. Por isso, mãe, como antídoto, vou entreter-me a apresentar-lhe uma lista daquilo de que tenho mais saudades, porque com esta miragem tudo se torna mais fácil — aliás, como toda a gente sabe, planear férias e antecipar a felicidade é muitas vezes a melhor parte.
Aqui vai a lista das minhas memórias/expectativas:
# Deixar os miúdos ir para a piscina substituindo o banho (e a respetiva guerra para os pôr dentro da banheira e, depois, a batalha para os tirar de lá).
# De que a praia continue a funcionar milagrosamente para pôr bebés e crianças a dormir.
# Das discussões com os adolescentes passarem a ser sobre a hora a que voltam para casa em lugar de pelas notas e testes.
# De como, muito de vez em quando, podemos substituir uma refeição por uma bola-de-berlim.
# De não ter de vestir meias aos meus filhos (que acham que as meias são feitas de picos!).
# De deixar de fazer 1500 km por dia para os ir buscar e levar a escolas, atividades extracurriculares e afins.
# De não ter de secar o cabelo de ninguém (nem o meu!)
# e principalmente (ler a palavra em maiúsculas), de não ter de andar a pôr roupas de aquecedor em aquecedor para ver se secam, ou de acabar por as arrumar no armário meio húmidas, porque o sol se encarregou de tudo enquanto estiveram no estendal.
Vá lá, mãe, não estrague os meus planos, lembrando-me que 24 horas depois deste idílio vou começar a ter algumas saudades do tempo de aulas. Deixe-me sobreviver a esta reta final agarrada à doce expectativa de que esta correria tem fim, e que vêm aí tempos melhores.
***
Querida Ana,
Prometo que não vou ser o Grinch das Férias, até porque como sabes subscrevo entusiasticamente alguns dos pontos da tua lista, sobretudo a substituição das refeições por bolas-de-berlim.
Parece-me que por todo o Portugal continental e ilhas os avós contam os dias para que os netos fiquem de férias e lhes sejam entregues... sem a presença dos pais, o que é toda uma outra história, muito mais divertida e envolvente do nosso ponto de vista, claro.
É verdade que muitos dos avós de hoje, em que me incluo, ainda trabalham a tempo inteiro, mas, com sorte, conseguem dar a volta aos horários para gozarem desse privilégio. Para os avós serve como um tónico, rejuvenesce-nos ao ponto de andarmos com eles na montanha-russa do arraial mais próximo, nadarmos até à boia mais distante, acamparmos no jardim e, até, comprarmos bilhetes e irmos com os nossos netos adolescentes àqueles festivais de música de que, em condições normais, fugiríamos a sete pés. Temos a consciência de que é um privilégio a gozar enquanto podemos, não só porque não vamos por cá andar muito mais tempo, mas sobretudo porque, em breve, não nos querem levar com eles.
Depois, exaustos, devolvemo-los à família nuclear (ajuda a manter os níveis de energia saber que a maratona tem data-limite) e tiramos uns dias só para nós, com uma nova consciência do valor do sossego, mas com o coração cheio.
Por isso, querida Ana, junta a essa tua miragem uns dias sem eles. Com uma condição, claro, que todos os avós do mundo devem impor: os netos não podem vir atrelados com listas de diretrizes maternas e paternas, que os paizinhos depois fiscalizam através de telemóveis e apps. Em casa dos avós, as regras são as dos avós, em benefício das crianças, porque não são só os pais que precisam de uma pausa nas rotinas, os filhos também!
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