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CRÓNICAS E ENTREVISTAS
A ESTRATÉGIA DA INOFENSIBILIDADE
Publicado em: 04/06/2025
Mais resiliência e mais responsabilidade pelas nossas emoções criam, seguramente, menor necessidade tanto de atacar, como de nos defendermos.
Estamos num tempo em que é difícil manter o sangue-frio. Entre os discursos de André Ventura e a perspetiva do circo que se vai instalar na Assembleia da República, o clima agreste dos Estados Unidos com um Trump sem limites e a crueldade e impunidade de Putin e Netanyahu, não admira que sinta uma crescente dificuldade em tolerar quem os defende. Em não reagir às opiniões contrárias à minha de forma estupidamente impulsiva.
Só pode ter sido por isso que, esta semana, me senti irresistivelmente atraída pelo conceito de “Strategic Unoffendability”, o que traduzido livremente dá qualquer coisa como “Estratégia da Inofensibilidade”. O objetivo é tornar mais difícil que nos magoem e provoquem. Inspirado nos estoicos, foi criado por Brant Hansen, um autor e apresentador de rádio norte-americano que escreveu “Unoffendable”, e a premissa do livro é simples: não nos deixarmos ofender. O que só parece difícil porque partimos do princípio que a ofensa é automática, algo que nos acontece sem escolha ou controlo. Ora, Hansen desafia essa ideia, argumentando que temos muito mais poder sobre o que nos afeta do que imaginamos.
Isto não significa cruzar os braços ou tornarmo-nos indiferentes, muito pelo contrário, já que se não gastarmos energia a provar aos outros que estão errados, a remoer nas suas idiotices e a cultivar o ressentimento, sobra-nos paz de espírito para agirmos sobre os problemas. E de caminho, poupamos nos calmantes e no omeprazol para as úlceras!
A teoria é linda, mas como se põe em prática? Como aplicá-la quando acabámos de ouvir um irmão a glorificar alguém que, do nosso ponto de vista, ataca todos os nossos valores? Uma amiga a repetir a batida fake-news sobre o perigo da vacina do sarampo, ou que nos garante que a Universidade de Harvard estava a precisar de uma lição? Como não responder torto a quem nos acusa de “cegueira ideológica” ou de ingenuidade porque não vemos os emigrantes de outras etnias “por aquilo que realmente são”?
Hansen propõe uma série de passos como, por exemplo, “Apanhar o Pensamento”, evitando reagir de imediato, procurando perceber porque me irritou tanto. Também aconselha a “Substituir o Pensamento” por outro mais útil, que nos ajude a manter os pés assentes na terra, e a aplicar o “Pensamento Reverso”, aceitando a emoção, mas não nos deixando tomar por ela. Segue-se o mais difícil de todos, pelo menos para mim: largarmos a ideia de que temos de ter sempre razão! Ui, atingindo este grau, já devemos estar no nirvana. E o último, por comparação, parece-me fácil: “Redirecionar a Atenção”. Voltar o foco para o que é positivo ou aquilo que podemos controlar. O exemplo é meu: não há como ouvir fanáticos para dar mais valor às pessoas inteligentes que estão à nossa volta.
Os benefícios de tudo isto? Imagino que sejam maravilhosos. A ideia de que a nossa paz e alegria não dependem diretamente de acontecimentos exteriores é extremamente apelativa. Menos stress. Menos raiva e, consequentemente, menos culpa e remorsos. Mais resiliência e mais responsabilidade pelas nossas emoções criam, seguramente, menos necessidade tanto de atacar como de nos defendermos.
Enfim, aos 65 anos talvez os meus automatismos estejam já demasiado enraizados, vamos ver, mas desejo a todos os leitores boa sorte! Vamos todos precisar dela.
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