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CRÓNICAS E ENTREVISTAS
REGRESSO ÀS AULAS OU COMO PROTEGER OS AVÓS DOS ABUSOS LABORAIS DOS FILHOS
Publicado em: 02/09/2025
São cada vez mais os que, por esta altura, entram literalmente entrar ao serviço – vão buscar os netos à escola e levar às mil e uma actividades extra-curriculares, fazem os TPC, dão banho e jantar.
Querida, Querida Ana,
Que saudades das nossas birras por carta. Para dizer a verdade, são uma versão muito mais serena e silenciosa do que as birras ao vivo, inevitáveis nas férias em família. Tenho a certeza de que também preferes as minhas “bocas” e “palpites” em versão dactilografada, do que quando são dadas enquanto estás a tentar convencer um dos teus filhos a adiar o gelado para depois do almoço, ou a discutir com o teu marido se a criança deve, ou não, por o chapéu.
Pois é, se há uma coisa boa que ficou do confinamento foram as nossas Birras de Mãe, aqui no Público, e confesso-te que estava a contar os dias para recomeçar a escrever-te. Mas por falar em ansiedades e regressos, acabei de descobrir que há um nome para a síndrome que se abatia sobre mim todos os meses de Setembro, em tempo de regresso às aulas — chamam-lhe “Back-to-School Scaries” (Pavor de Voltar à Escola), caraterizado por uma sensação de angústia e agitação, que os especialistas asseguram que se assemelha em tudo ao stress pós-traumático. Compraram-no, também, aquilo que sentimos ao domingo ao fim da tarde, quando a segunda-feira se aproxima a passos largos, só que desta vez não é o susto da semana que temos pela frente, mas o de um ano inteiro...
Não é que eu, enquanto mãe, não estivesse desejosa de que vocês voltassem à escola, de que não andassem à minha volta a perguntar a todo o minuto qual era o programa para o dia, mas a transição para uma rotina de horários apertados, de lancheiras e de transportes, acompanhada da antecipação de toda a revolução emocional que os primeiros tempos de escola trazem, deixava-me ansiosa. Por vezes, mesmo à beira de um ataque de nervos, com o cérebro a recordar vivamente as birras para vos tirar da cama nos dias de Inverno, o caderno que ficava sempre esquecido, um em pânico para não chegar atrasado, enquanto o outro demorava horas a calçar o raio dos sapatos, os protestos de que não queriam ir, as fitas para vos meter na cama, ai, meu Deus, já estou a transpirar, e não é nada comigo.
Não é nada comigo, mas, para muitos avós é! São cada vez mais os que, por esta altura, entram literalmente entrar ao serviço – vão buscar os netos à escola e levar às mil e uma actividades extra-curriculares, fazem os TPC, dão banhos e jantares, por vezes ficam com as crianças a dormir em casa para facilitar a vida aos pais e, sobretudo, entram numa modalidade de “sempre disponível” que se torna desgastante.
Desculpa, a carta já vai longa, mas preciso que me dês alguns conselhos para ajudar a transição dos pais e conselhos para proteger os avós dos abusos laborais dos filhos. Fico à espera.
***
Querida Mãe!
As saudades foram recíprocas, estou mesmo um bocadinho assustada com o facto de o meu narrador interno começar todos os pensamentos com “Querida Mãe”! A verdade é que estas Birras me fazem mesmo muita falta!
Em relação ao “Back to School Scaries”, ui, acredite conheço bem a sensação, e nunca tive tanta noção disso como este ano quando entrei num supermercado, logo no início de agosto e vi a loja toda remodelada com coisas para a escola e cheio de cartazes de “Regresso às Aulas”. Juro, mãe, queria tanto arrancar aqueles posters todos, furiosa com a cultura do consumo que ousa vir roubar-nos o presente! Roubar o bocadinho de descanso mental dessa rotina que é tão longa. Mas tenho boas notícias: depois de vários anos a passar por isto, encontrei finalmente um mantra, que partilho consigo.
#1 É uma transição!
O que sinto durante a mudança não é igual ao que sinto depois de ter mudado. Tenho repetido isto a mim mesma várias vezes ao dia. Sinto uma angústia, uma ansiedade e uma incapacidade total de voltar ao ritmo, mas já aprendi que depois volto a encontrar coisas boas nessas novas rotinas e a reencaixar. Ou seja, a transição é desconfortável, mas não quer dizer que me vá sentir assim todo o ano.
#2 Os miúdos também sentem o mesmo.
Tenho de me relembrar que não sou a única afetada por esta condição e que os miúdos sofrem uma mudança GIGANTE de autonomia: por muito que gostem da escola vão ter muito menos possibilidade de escolha a cada momento, quando comer, se quero correr ou sentar-me, se me apetece falar ou ficar calado, e por aí adiante. E quanto mais pequenos, mais brusca é a transição das férias (sobretudo se foram em casa e com os pais) para a escola. E o que vou dizer a seguir pode parecer mais absurdo, mas provavelmente estão cansados (no verão também há socializações para gerir, défices de sono, antecipações de como vai ser o ano escolar, sobretudo se vão mudar de escola ou professor) e com os horários todos trocados, o que pode tornar a transição mais difícil. Mas, mais uma vez, não vai ser assim para sempre.
#3 Não é preciso por tudo a funcionar numa semana.
Exatamente por ser uma altura difícil, não é a melhor fase para “Pôr tudo em ordem” de uma única vez. Não podemos mudar as expectativas do dia para a noite, tudo será mais fácil se a mudança for gradual.
#4 Não deixar o horário do sono para último.
Para não tornar as idas para a cama num desespero, e impedir que comecem as aulas podres de sono, muitos especialistas recomendam um método bom para “endireitar” o horário. Começar duas semanas antes a deitá-los 15 minutos mais cedo do que a hora em que eles estão a adormecer. Dois dias depois, antecipar mais 15 minutos, até chegar à hora ideal. Isto evita que fiquem na cama sem adormecer tornando tudo mais difícil, e acordem rabugentos.
#5 Tentar prolongar as sensações de verão
Ir dar só um mergulho à praia depois da escola, ir comer um gelado ou ficar no parque até um bocadinho mais tarde, lembra aos nossos filhos e a nós próprias que a vida não é para ser dividida em “o que é obrigatório e chato” e “as férias divertidas”. Que em cada dia podemos encontrar pequenas pausas e prazeres.
Em relação ao abuso laboral, queridos avós fiquem com estes dois alertas:
#1 Sejam claros na ajuda que querem e podem dar aos vossos filhos – mesmo que a conversa seja difícil e rebente um bocadinho a bolha em que consideram que os devem estar sempre disponíveis para os ajudar. Lembrem-nos que têm a vossa vida — vão sentir culpa, mas é melhor do que guardar ressentimento (que se acabam por cobrar). Acreditem que todos agradecem.
#2 Juntem-se aos pais nas reivindicações por medidas que apoiem mais as famílias em Portugal, tanto em termos de tempo laboral, como de ordenados, de creches e escolas, de forma a que toda a sociedade fique a ganhar.
Beijinhos!!
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