CRÓNICAS E ENTREVISTAS

 “QUANDO VIR UM CINQUENTÃO, PELO MENOS SORRIA-LHE!”
Publicado em: 17/09/2025
Contas feitas, diz o Economist, aos 31 anos tanto os Millennials como a geração Z tinham o dobro da riqueza do que a maioria dos X na mesma idade. E o pior é que o futuro não lhes parece prometer grande coisa, submersos pela previsível falência dos sistemas de segurança social e o flagelo das loucuras do senhor Trump.


A graça deste título infelizmente não é minha, mas a última linha de um artigo do “Economist” sobre os azares da geração X, aquela que nasceu entre 1965 e 1980 e que, segundo a revista, é a que merece toda a nossa piedade. A geração de que ninguém se lembra — é que enquanto a geração Z (1997-2012) dá que falar com os seus queixumes de que as redes sociais lhes estragaram a infância, os Millennials (1981-1996) se lamentam por não poderem comprar casa, e os BabyBoomers (1946-1964) se choram perante a incerteza das reformas, os X são aqueles que neste momento sofrem a sério. A coisa é de tal forma que um estudo da IPSOS feito em trinta países revela que 31% dos que pertencem a esta coorte se dizem muito infelizes, valor que supera o de todas as outras gerações inquiridas.

E têm razões para isso. Com idades entre os 45 e os 60 anos, estão no ponto mais difícil da vida, a acreditar na chamada Teoria da Curva em U (The U-Bend Theory) que afirma que os jovens são felizes, os velhos são felizes, mas os que se encontram lá em baixo, na “meia-idade”, passam por uma fase mais triste, que corresponde ao surgimento de maleitas de saúde mais complicadas, mas, sobretudo, a um tempo de balanços, em que muitas vezes concluem que os seus sonhos não se realizaram. Mas a esta inevitabilidade, a geração X soma, segundo o Economist, razões concretas para andar mais deprimido: gastam todo o seu tempo e dinheiro a cuidar dos filhos e dos pais, entalados numa sandwich que esmigalha sobretudo as mulheres, com a agravante de que são problemas que estão para durar. Isto porque os filhos saem cada vez mais tarde de casa — nos países latinos, aos 32 anos, a grande maioria ainda está sob o teto paterno —, e a longevidade dos pais também aumentou.

Mas a lista de tragédias que leva a revista a chamar-lhe mesmo “geração amaldiçoada” não se fica por aqui. Têm menos rendimentos e menos poupanças, porque apanharam com duas grandes crises financeiras, que se deram exatamente na idade em que deviam estar a subir na carreira e a ganhar na Bolsa, mas também porque investiram menos na vida profissional, tal o desejo de conseguirem um maior equilíbrio entre o emprego e a família/tempos livres. O resultado é que é bem provável que não sejam proprietários da casa em que habitam, já que não conseguiam empréstimos bancários para a comprar ou foram impedidos de os pagar aos bancos que se apropriaram delas. Contas feitas, diz o Economist, aos 31 anos tanto os Millennials como a Geração Z tinham o dobro da riqueza do que a maioria dos X na mesma idade. E o pior é que o futuro não lhes parece prometer grande coisa, submersos pela previsível falência dos sistemas de segurança social e o flagelo das loucuras do senhor Trump. De facto, também eu tenho a intenção de seguir o conselho do autor do artigo: quando se cruzar com um quinquagenário, trate-o com carinho.