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CRÓNICAS E ENTREVISTAS
“AVÓ, JÁ ESTIVE NA TUA BARRIGA!”
Publicado em: 24/09/2025
Sermos conhecidos e amados por uma comunidade garante sobrevivência, diversidade de ideias e de estímulos, e ajuda-nos a ir construindo a tal “equipa” de pessoas que nos ajudam em coisas diferentes.
Querida Ana,
Com cinco, seis anos, não mais, a tua filha M. anunciou-me que já tinha estado na minha barriga.
Disse-me mesmo assim “Avó, já estive na tua barriga!”.
A explicação era perfeitamente clara — se lhe dizias que ela sempre existira dentro de ti e tu tinha passado nove meses na minha barriga, então ela também lá tinha estado. Continuou a pensar alto para concluir que entre as avós, as mães e as filhas tudo se passava como naquelas bonecas (russas), em que dentro de cada uma está outra mais pequenina, dentro dessa, outra, e assim sucessivamente.
Lembro-me de que quando a vieste buscar, estava ansiosa por te contar a descoberta.
O mais extraordinário é que cientificamente é mesmo assim. As mulheres logo às dez semanas de gestação já desenvolveram as células germinativas primordiais que, por volta do 5.º mês de gravidez, já são “ovócitos primários”. Quando nascem, estão lá todos, a reserva completa, à espera da puberdade para amadurecerem. Por isso, ela tem toda a razão, e é lindo!
Obrigada por me teres dado uma neta assim.
***
Querida mãe,
De nada! Pelos vistos, a mãe contribuiu bastante para que ela exista, por isso é que podemos dizer que ela é nossa!
Por vezes, é difícil para os pais deixarem que os filhos sejam do plural em vez do singular, passem do “meu” ao “nosso”. É óbvio que nada substitui a relação de mãe/pai/cuidador principal, e é natural que um filho comece por ser da mãe/pai e que se vá abrindo para os outros. E é responsabilidade dos adultos à volta de tolerarem esse desconforto de não serem os atores principais, sem ciúmes doentios ou competições sem sentido, mas como em qualquer peça de teatro, a vida é muito pouco interessante sem atores secundários. Se não houver ensemble. E nem é por nós — ainda que termos um papel importante na vida dos nossos bebés seja altamente recompensador —, mas sobretudo por eles, porque há qualquer coisa de verdadeiramente mágico para uma criança saber que é amada por uma comunidade. Saber que tem guardado para si, em vários sítios diferentes, um amor incondicional. Não há melhor antídoto contra o medo da perda, contra o medo da morte.
Sermos conhecidos e amados por uma comunidade garante sobrevivência, diversidade de ideias e de estímulos, e ajuda-nos a ir construindo a tal “equipa” de pessoas que nos ajudam em coisas diferentes, em momentos diferentes. Aquela tia a quem posso sempre pedir conselhos sobre amigos e namorados e que não me julga como os meus pais; aquele primo com quem posso contar se estiver sozinha; aquela mãe da amiga que me pergunta sempre como estou e se dispõe a realmente escutar-me.
Não é fácil construir esta rede. Requer paciência, engolir alguns sapos e ignorar algumas birras dos nossos egos sempre demasiado frágeis.
Ainda bem, querida mãe, que os meus filhos são nossos!
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