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CRÓNICAS E ENTREVISTAS
A CULTURA DA SIMPATIA NÃO NOS LEVA A LADO NENHUM!
Publicado em: 15/10/2025
Quando um líder não é capaz de ser honesto, primeiro consigo próprio e depois com aqueles que dependem dele, rapidamente passa esse código de conduta para toda a gente, e adeus criatividade, tudo estagna.
Sinceramente não sei porque perco tempo a ouvir podcasts sobre liderança se nem o periquito cá de casa segue as minhas sugestões, mas suspeito que seja pelo fascínio de existirem pessoas que não fogem do conflito, que conseguem ser “assertivas com boas maneiras”, expressão cunhada pelo Eduardo Sá e que até agora nunca consegui pôr em prática. Pelos vistos, lá no fundo, no fundo, não perdi a esperança, por isso dediquei-me a ouvir o “Dare to Lead” da famosa investigadora Brené Brown.
Mesmo que nos avise que não é fácil, a verdade é que dito por ela tudo parece simples — basicamente, bastaria assumirmos a nossa vulnerabilidade, conscientes de que o medo faz parte da equação, e aceitarmos trocar o conforto pela coragem. A coragem que, assegura, não é uma qualidade intrínseca, mas um compromisso connosco próprios e que exige ferramentas que todos podemos aprender a utilizar.
Dou por mim a recordar as mil situações em que se não tivesse adiado aquele frente a frente com um “colaborador” – como agora se diz —, por incapacidade de lhe dizer o que realmente pensava do seu trabalho, teria evitado que tempos depois a bomba rebentasse, sempre com danos incontroláveis e, invariavelmente, no momento menos oportuno.
E é então que a oiço desfazer na “Nice Culture”, na cultura do ser agradável, que, garante, sufoca tantas empresas e equipas: doura-se a pílula, evita-se dar feedback, foge-se do conflito. Brené Brown assegura que ao contrário do que os “líderes simpáticos” julgam, não o fazem por serem boas pessoas, mas por medo (de perder, do que pensem dele, etc.). No entanto, o medo não melhora o ambiente de trabalho (nem o de casa), limitando-se a promover o dizer mal pelas costas. E cito: “Falamos delas, mas não com elas, e isso, decididamente, não é mesmo nada simpático!” Nem, já agora, produtivo.
Quando um líder não é capaz de ser honesto, primeiro consigo próprio e depois com aqueles que dependem dele, rapidamente passa esse código de conduta para toda a gente, e adeus criatividade, tudo estagna. Brené Brown garante que o antídoto está em deixar cair a nossa armadura e passar a valorizar o erro. Assegura que diz, cara a cara, “Se só veio para cá fazer o que já faz bem, não precisamos de si. Se for incapaz de tentar ir mais longe e falhar, não nos compensa empregá-lo”.
Ui, penso, será que conseguem dizer este tipo de coisas, sem ficarem a remoer de culpa, sentindo-se literalmente os maus da fita? Aparentemente, sim, e se deixarmos de lado os estereótipos e os preconceitos e nos pusermos no lugar de quem recebe este mandato, na realidade são palavras libertadoras. A partir de um estudo com 300 mil voluntários de todo o mundo, Brené Brown concluiu que quando o erro é aceite, cada um toma consciência de que também é responsável por sair do “buraco” e voltar ao combate, sem andar a deitar as culpas para cima dos outros. Pelo contrário, diz, quando alimentamos uma cultura de vergonha por falhar, adubamos uma cultura de bodes expiatórios.
Só mais um ponto, um ponto que me fez mesmo pensar: para ela, o ressentimento, aquela emoção que nos consome por dentro, não tem origem naquilo que os outros fizeram ou deixaram de fazer, mas na nossa falta de coragem. Estamos é furiosos connosco próprios, porque não fomos capazes de nos afirmar, seja perante um chefe, um marido, os filhos ou os amigos, cedendo porque era mais cómodo, porque nos sentimos melhor no papel da vítima.
Bem, mas a boa notícia é que a coragem é contagiosa — talvez Brené Brown me tenha pegado alguma.
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