BIOGRAFIA
•
LIVROS
•
PRESS
•
ALBUNS
•
AGENDA
•
DIAS DO AVESSO
•
CRÓNICAS E ENTREVISTAS
•
CONTACTOS
CRÓNICAS E ENTREVISTAS
QUEREMOS MAIS TEMPO E ESPAÇO PARA BRINCAR NA ESCOLA
Publicado em: 28/10/2025
Os miúdos, principalmente nos recreios de muitas escolas públicas, precisam de mais materiais e mais objetos que possam manipular, para poderem criar.
Querida mãe,
São nove da manhã, o meu filho chegou à escola há menos de dez minutos, mas já está totalmente embrenhado numa brincadeira com os amigos. Têm uma loja de musgo e de pinhas e vão vendendo coisas uns aos outros. É verdade que estarem numa escola na floresta é um privilégio, mas não é por isso que estas brincadeiras funcionam tão bem, e eles ficam tão “apanhados” por elas tão depressa.
E, como a mãe sabe bem, isto também não resulta de o seu neto ser muito extrovertido, porque definitivamente não o é. Sabe qual é o segredo? São brincadeiras contínuas que foram deixadas em aberto. A ideia de “deixar tudo arrumadinho ao final do dia” pode ser atraente para os adultos que saem da escola com a sensação de que os “assuntos ficaram arrumados”, mas na verdade as brincadeiras — com todo o valor que têm para o desenvolvimento do ser humano — são um processo na cabeça de uma criança. Uma oportunidade de observar, testar e reajustar. Ainda mais complexo quando envolve mais do que uma pessoa, porque vai interligando os pensamentos e as experiências de cada um de forma a criar um projeto comum. Mas é exatamente por ser um processo que exige tempo e, muitas vezes, os recreios não têm uma duração suficiente para que as várias etapas se sucedam. Porque, mãe, repare que eles precisam primeiro de ter as ideias, negociando-as uns com os outros (tu és o pai, eu sou a mãe, ele é o dono da loja, etc...), depois de preparar o contexto (construir o cenário, a casa, a escola, as ruas), e só então vão começar a desenvolver a brincadeira propriamente dita. Imagine a frustração quando estão a acabar de preparar o cenário e têm de arrumar tudo. Ou tiveram mais dificuldades em negociar e não lhes sobra tempo sequer para começar a brincar. E o pior é que no dia seguinte vão ter que começar tudo de novo. Agora imagine que se tudo isto já é difícil para as crianças mais extrovertidas, pense na dificuldade dos mais tímidos, que lá ganharam coragem para dar uma ideia, ou conseguiram um papel importante no jogo, e tudo se desmorona. Claro que os horários fazem parte da vida e as brincadeiras incompletas também, mas é um facto que:
1. Os recreios são muito curtos e isto é especialmente grave quanto mais velhos são os miúdos, como se deixassem de precisar de brincar.
2. Há muitas brincadeiras (cenários) que podiam não ser arrumadas, o que facilitava logo o retorno à brincadeira no intervalo ou no dia seguinte. Isto não é o mesmo que deixar tudo desarrumado.
3. Os miúdos, principalmente nos recreios de muitas escolas públicas, precisam de mais materiais e mais objetos que possam manipular, para poderem criar. Não propriamente de mais escorregas ou casinhas de plástico (porque essas esgotam-se), mas de materiais que se possam juntar, transformar noutras coisas e inspirar a brincar, coisas simples como pedras, paus, areia, caixas, pneus.
Subscreve a minha birra?
***
Querida Ana,
Sim! Subscrevo completamente, mas gostava de acrescentar uma coisa que aprendi com as tuas próprias filhas: nem todas as crianças adoram essa ideia de recreio de rua e de natureza. Não digo que não lhes faça bem e que não seja necessário, mas há crianças que tendem a querer mais desenhar, construir dentro de casa, fazer teatros, e queria incluí-las no teu manifesto. Estas brincadeiras não precisam de ser a imagem-postal das escolas da floresta, podem ser brincadeiras dentro da sala, e o que tenho reparado nalgumas visitas a escolas é que o espaço interior fica inacessível durante o intervalo.
Vamos inventar um atelier ou uma sala maior, permitindo que também se possa transformar noutras coisas que não “a sala de fazer fichas”! E, por favor, por favor, não digam já que não é possível, que não há “meios”, que o Ministério não deixa, ou outra desculpa qualquer. Os miúdos merecem mais.
Siga no Instagram: https://www.instagram.com/birrasdemae/
Siga no Facebook: https://www.facebook.com/birrasdemae/
Leia no site do Público »