CRÓNICAS E ENTREVISTAS

 INGREDIENTES PARA O MELHOR DIA DOS AVÓS - HAPPY KIDS
Publicado em: 24/07/2018
“Aos avós cabe manter os rituais, e criar outros novos. Juntei o comité de netos, e estabelecemos o programa das festas. Por aqui, vamos celebrar a sério.”

Gostamos de festas, cá em casa gostamos de festas. A culpa é de termos metido na cabeça que nos cabe criar memórias nos nossos netos, deixando-lhes marcas que nos garantam a eternidade. É um bocadinho vaidoso, se calhar até é, mas é o melhor antídoto antienvelhecimento que conheço. Não tira as rugas, mas ajuda a encobri-las, porque quando rimos veem-se menos.
Os netos também ficam a ganhar, acredito que sim, e partem para a vida com uma reserva de oxigénio para os dias maus. É um seguro de vida saber que somos o melhor do mundo para alguém, melhor ainda quando fomos o melhor do mundo para os nossos pais e avós.
Por tudo isto, levamos as datas importantes a sério, mesmo aquelas que só recentemente incluímos no calendário, como o Dia dos Avós. Não o fazemos naquela do “Ai, vamos lá ver se não se esquecem!”, como se procurássemos testar o amor que nos têm, mas sabendo pedir. Não é fácil pedir, treinados como estamos mais para dar do que para receber, mas ainda vamos bem a tempo de aprender. E de lhes dar o exemplo.
Por isso, eu assumi que quero. E porque quero, reuni o comité de festas e discutimos juntos o programa de 28 de julho de 2018. “Avó, podes escolher todas as coisas que mais gostas de fazer connosco”, sugeriram. Rebuscámos no nosso Frasco de Memórias, e a lista é tão grande que não sei se cabe em 24 horas, mas pouco importa, pode passar para o dia seguinte.
Fundamental é dormirmos no mesmo quarto, como se fosse um acampamento. Podem fingir pesadelos e vir para a minha cama, porque quero acordar com elas aconchegadas. Sabemos que também é dia do avô, mas temos esperança de o subornar a trazer-nos o pequeno-almoço, com a generosidade com que sempre o faz.
Depois vão permitir-me que lhes leia um dos meus livros favoritos. Os bons livros infantis são aqueles que genuinamente lhes gostamos de ler. Pelo menos é o que acho, e, como é o meu dia, é assim que vai acontecer.
Teremos de jardinar, com as mãos enfiadas na terra sem luvas, porque a terra entre os dedos é das melhores sensações do mundo. Suja as unhas, é claro, mas também temos o truque do sabonete, que as limpa de novo antes de irmos almoçar fora — ninguém me convence a entrar numa cozinha em dia de festa. Depois vamos passear pela praia, ou à sombra de uma floresta, em busca de duendes e sereias, e ai de quem se atreva a perguntar se o Pai Natal existe, ou a pôr em dúvida que as fadas voam. Pelo caminho, vamos recitar o nome completo da rainha D. Maria II, veja lá se é capaz: Maria da Glória Joana Carlota Leopoldina da Cruz Francisca Xavier de Paula Isidora Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança, não é fácil sem trocar a ordem.
No regresso, vamos cantar a Música no Coração, e elas prometeram que não me corrigem quando me enganar na letra, que sabem melhor do que eu.
Pedi trancinhas, gosto tanto de lhes sentir os dedos no meu cabelo, e um longo banho de imersão. Prometeram também uma birra, vão bater o pé a dizer que não se querem ir embora. Mas querem. Felizmente, porque a maior bênção de uma avó é saber que os netos têm os melhores pais do mundo à sua espera.