CRÓNICAS E ENTREVISTAS

 AVÓS E NETOS, O FIO QUE OS UNE
Publicado em: 26/04/2022
Transmitimos o que recebemos, numa cadeia que nos dá a segurança de saber quem somos e de onde vimos, mesmo que, felizmente, lhe vamos acrescentando elos e, inclusivamente, trocando as voltas.


Querida Mãe!

Todos os óvulos que vamos usar durante a nossa vida são formados por volta dos quatro meses de gestação. Já viu o que isto significa? Que uma parte de nós tem origem na barriga das nossas avós! Quando li isto pensei em como tantas e tantas vezes nos esquecemos de honrar esta passagem de geração em geração.

Repare, mãe, falamos muito das avós vs. netos, falamos das diferenças entre tempos, do que mudou, do que “evoluiu”, das modas “modernas” de educar os filhos que irritam as avós ou das tradicionais que enervam as mães, mas nesta semana que culmina no Dia da Mãe, gostava de celebrar o fio que nos une. O amor herdado. Todas as coisas em que acertamos com os nossos filhos porque a nossa mãe também acertou quando as fez connosco!

Deixemos, por uns dias, o divã onde vamos recordar os momentos em que sentimos que a nossa mãe nos falhou. Vamos agradecer todas as coisas, mesmo as mais pequeninas — talvez sobretudo as mais pequeninas —, que porque as recebemos das nossas mães, temos a possibilidade de as passar aos nossos filhos.

Obrigada, mãe, por me ter passado a sua magia e crença em fadas, duendes e anões. Por me ajudar a nunca perder a fé. Obrigada por se ter rido tanto que me contagiou. Por se ter rido de si própria, ajudando-me a aprender que é das ferramentas mais eficazes para ultrapassar os momentos mais difíceis. E obrigada por ter confiado em mim na adolescência. Sei que lhe deve ter custado muito, mas ensinou-me a ser responsável, e isso dá-me agora uma força grande para confiar e acreditar que os meus filhos também o serão. Obrigada, por ter sido exactamente como foi.

Beijinhos!

***

Querida Filha,

Obrigada por esta carta, é o melhor presente de Dia da Mãe. E, secretamente, espero que a amnésia das minhas falhas dure mais um bocadinho...

Vamos lá então celebrar essa passagem do testemunho — lembro-me da tua filha Marta, com cinco anos ter chegado à conclusão de que se tu tinhas estado na minha barriga, e ela na tua, então ela também tinha estado na minha. É tão intuitiva essa miúda.

Tens toda a razão, transmitimos o que recebemos, numa cadeia que nos dá a segurança de saber quem somos e de onde vimos, mesmo que, felizmente, lhe vamos acrescentando elos e, inclusivamente, trocando as voltas.

A confiança nos filhos adolescentes de que falas, por exemplo, herdei-a dela. Na época não era muito vulgar, sobretudo com as raparigas, mas a minha mãe estava segura de que nos tinha educado para andar na linha e saber dizer “não”. Lembro-me de perante os pais das minhas amigas, tinha 12 ou 13 anos, fingir que não tinha a chave de casa, não fossem eles pensar que “andava de rédea solta”. E lembro-me que a minha mãe reagia irritada com as mães que não deixavam as filhas sair com os namorados à noite com medo do que pudesse acontecer — chocava-as quando lhes dizia que se engravida tão bem à noite como de dia.

O melhor da confiança é que põe sobre os nossos ombros o desejo de não defraudar as expectativas. É o maior antídoto para a mentira e a mentira corrói todas as relações.
Durante os dias que faltam até domingo, vou continuar a celebrar estas heranças, e a sorte de ter filhos e netos a quem já passei a tocha.

Bom Dia da Mãe!


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