CRÓNICAS E ENTREVISTAS

 DESEJOS DE ANO NOVO? APRENDER A DESISTIR É UM DELES
Publicado em: 21/12/2022
Aviso: este ano, a minha lista de resoluções para 2023 vai ser completamente diferente daquelas que fiz em todos os anos anteriores. Desta vez, juro, vou tirar ilações da loucura de um dezembro sobrelotado de preparativos para o Natal, de 365 dias de correria intensa em que nos esquecemos das promessas de desacelerar feitas durante os confinamentos obrigatórios. Vou provar a mim mesma que quando nos disseram que desistir era falhar, nos deram a pior lição de sempre.

Ah, pois é, martelaram-nos a cabeça com a ideia de que só os perdedores deixam as coisas a meio; encheram-nos os ouvidos com a noção de que se não era para levar até ao fim, mais-valia não ter começado — um curso, uma relação, uma dieta, um livro —, e o resultado é que andamos como ratinhos na roda de uma gaiola a procurar provar ao mundo que não somos gente dessa laia. E, pior, a educar filhos e netos com a mesma balela, perpetuando agendas sobrelotadas que consomem energias que bem podiam ser dedicadas a coisas melhores. Nomeadamente ao descanso.

Não é nada fácil reverter esta lavagem ao cérebro, mas consegue-se. Há uma arte de saltar fora no momento certo, com dor, sim, muitas vezes, sem recriminações, nem remorsos, de forma responsável, mas sem tanto drama. E com menos autopunições. É uma arte que se aprende.

Fui espreitar a Harvard Business Review e, num artigo da Diana Denham Smith, coach de executivos, encontrei um conceito que ajuda a perceber o que se passa com os nossos neurónios quando pensamos abandonar qualquer coisa em que já investimos muito tempo, esforço e dinheiro. Ou, simplesmente, expetativas. Aparentemente temos um viés inconsciente, a que deram o nome de "Falácia do Custo Irrecuperável", que nos leva a persistir, mesmo quando intimamente sabemos perfeitamente que não seremos capazes de recuperar aquilo que já investimos. É o que acontece a um jogador frente a uma máquina no casino que acredita que será sempre a próxima aposta a ressarci-lo de tudo o que já gastou, à mulher repetidamente traída que quer acreditar nas juras de que foi a última vez ou ao empresário que nega a evidência do Deve & Haver que tem à frente dos olhos. Quando, na realidade, colheriam muito mais benefícios em por um ponto final e seguir em frente.

Mas como retirar a venda? A recomendação é: quando sentimos que não dá mais, depois de sossegado o primeiro momento de pânico, paremos para pensar em que poderíamos aplicar melhor os nossos recursos, tomando consciência de quantas oportunidades perdemos por insistir no mesmo. Não é um exercício fácil, sobretudo para aqueles que fazem gala em não ser "um desses que atira a toalha ao chão" - e ajuda se pedir ajuda a alguém em cujo juízo imparcial se confia.

O segundo segredo está em não deitarmos fora o menino com a água do banho, ou seja, o nosso amor próprio com o projeto que queremos deixar cair. E, para que isto seja possível, aconselha Diana Smith, temos de deixar de ruminar nas perdas, colocando o foco nos ganhos da experiência, que são sempre muito mais do que nos parece à primeira vista. Que mais não seja, o que não queremos!

E é por isso que a minha lista deste ano não vai incluir todas as coisas — confessáveis em público! — que me comprometo a deixar cair no próximo ano. Deixo-vos algumas, mas estou segura de que até 31 de dezembro estará em continua atualização.

# Vou riscar o sonho de ir ao ginásio duas vezes por semana, ou mesmo uma. Substituo-a por passeios a pé, que me dão muito mais prazer.

# Vou riscar a ideia de que quem não acorda cedo é preguiçoso, e aceitar o meu ritmo biológico.

# Vou assassinar a mania de dizer que sim a tudo, por medo de magoar os outros ou de que, da próxima vez, não me voltem a convidar.

# Vou deixar de sentir complexos por não ser uma fada do lar (vai exigir esforço).

# Vou deixar de me sentir uma perdulária por apanhar um Uber ou um táxi quando me apetecer.

E, por agora, é isto. Feliz Ano Novo.