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CRÓNICAS E ENTREVISTAS
EMPRESAS CONDENADAS POR EXISTIREM
Publicado em: 11/01/2023
A surpresa levou-me a vasculhar aquelas vidas para concluir, atónita, que nove dos 10 nunca na sua existência tinham trabalhado em algum lado que não fosse diretamente sustentado pelos nossos impostos.
Nunca uma tomada de posse de membros de Governo foi um espetáculo tão animado e cativante como a da semana passada.
O número do membro que entra e sai é obviamente pornográfico.
Um outro número, igualmente interessante, é que foram logo 10 de uma assentada. Ora, atendendo a que o Governo da pátria se compõe de nada menos do que 60 iluminados, entre primeiro-ministro, ministros, secretários e subsecretários de Estado, estamos a falar em quase 17%, o que em qualquer compêndio de estatística é inequivocamente considerado como uma amostra muito representativa.
Dediquei-me assim a analisar com mais detalhe este grupo de portugueses na esperança de ali encontrar um paradigma que explicasse algumas daquelas coisinhas do dia a dia que a minha compreensão não alcança, do género porque é que temos mais médicos que os outros países e não se consegue uma consulta ou atendimento? Porque é que temos mais magistrados que os outros e os processos não avançam? Porque é que temos menos população e mais funcionários. Porque é que pagamos mais impostos e temos dias a fio de escolas fechadas e penamos para conseguir um cartão de cidadão? E é melhor parar aqui o rol.
Dessa minha análise à tal amostra dos novos 10 governantes concluí, como era de esperar, que uns eram altos outros baixos, uns homens outros mulheres, uns do Norte outros do Sul, uns magros outros mais anafados. Nada de surpreendente, portanto.
Dediquei-me depois a ler os currículos (não, não foi assim tão trabalhoso...) e apercebi-me de uma curiosidade: é que dos 10 empossados havia exatamente 10, ou seja, todos, que provinham do setor público – Estado, instituições de ensino, autarquias, etc... – e nem um do setor privado. A surpresa levou-me a vasculhar aquelas vidas para concluir, atónita, que nove dos 10 nunca na sua existência tinham trabalhado em algum lado que não fosse diretamente sustentado pelos nossos impostos.
Se a estatística vale alguma coisa é muito provável que a esmagadora maioria do Governo seja assim composta por funcionários.
Ou seja, a malta que se dedica a contribuir grão a grão para o PIB é governada pela malta que não lhe acrescenta um cêntimo, antes se entretém a desbaratá-lo.
Agora percebemos melhor aquele discurso de António Costa, que só encontrou justificação para a escolha dos ministros recém-nomeados na sua capacidade de contornar os meandros da administração pública.
Perguntarão se isso fará assim tanta diferença. Faz. Quem trabalha ou dirige uma empresa privada sabe, desde o primeiro minuto, que a sua carreira, o seu emprego, o seu salário, o seu bem-estar e o da sua família dependem da sobrevivência e êxito da organização que integra. E que isso é sempre resultado de uma força coletiva. A sua escala de valores ajusta-se aos objetivos e o seu comportamento é condicionado por saber que as ações individuais afetam os demais.
Percebe-se agora a leviandade com que se despejam normas e regras absurdas sobre quem produz e trabalha, indiferentes aos rombos na eficiência que provocam, de tal forma que para a esmagadora maioria é uma impossibilidade cumprirem integralmente a totalidade das obrigações que sobre eles impendem e ao mesmo tempo gerarem dinheiro para pagar salários aos trabalhadores e ao Estado.
Vivem sempre em incumprimento de alguma coisa, que muitas vezes não sabem qual, e no consequente pânico da notificação que pode chegar pelo correio no dia seguinte.
São, na prática, condenadas por existirem.