CRÓNICAS E ENTREVISTAS

 VOLTA, NEELEMAN, ESTÁS PERDOADO!
Publicado em: 08/02/2023
Por alguma razão os pais do Dr. Nuno Pedro mandaram-no para a política, mantendo-o assim longe do próspero negócio de marroquinaria que conduzem com desvelo e mestria.


As coisas são o que são. De nada interessa já falar dos 3,2 mil milhões despejados diretamente para o bueiro da TAP. Nunca lhes vamos encontrar o rasto e por mais malabarismos que façam com os números, tentando demonstrar que os benefícios do suposto investimento andam por aí nas mochilas dos turistas e no orgulho da pátria, dificilmente nos vão convencer que não nos enfiaram o barrete.

Só que o pior que se pode fazer é justificar más decisões futuras com erros do passado.

Atirar mais dinheiro para os aviões só porque já se gastou muito neles era mais ou menos a mesma coisa do que ir a correr comprar criptomoedas só porque as nossas nos custaram um balúrdio e agora não valem um chavo, na ilusão de que assim perdíamos menos.

Viremos por isso a página, esquecendo de caminho as indemnizações pagas e os bónus a pagar, que nada disso tem remédio, e vamo-nos agora concentrar na próxima temporada deste folhetim, que também tem todos os argumentos para nos manter agarrados às notícias da televisão: a venda!

Ouvindo as declarações dos governantes diretamente implicados na manobra, percebemos que num curtíssimo período de tempo conseguiram violar todas as regras a que um negócio deste tipo está sujeito: primeiro anunciaram firmemente que iam vender, sem ter a mínima ideia se o vão conseguir fazer, a que preço e dando a coisa como assente; em segundo lugar, deitaram-se a adivinhar publicamente os nomes dos compradores (Lufthansa, Iberia, Air France, etc.), sem que os próprios tivessem sequer acenado. Por fim, deixaram escapar para os jornais o valor de uma suposta avaliação, que, por azar, aponta para um preço 72% abaixo do desembolso que acabámos de fazer.

Ora, não é preciso ter estudado em Harvard para perceber que isto são tiros nos pés (nos nossos, claro está). Qualquer honesto feirante sabe que quando leva um porco ao mercado, depois de o ter engordado à força e untado o couro com banha, passeia-o pela trela e espera altivamente que lhe façam ofertas.

Mas pronto. Por alguma razão os pais do Dr. Nuno Pedro mandaram-no para a política, mantendo-o assim longe do próspero negócio de marroquinaria que conduzem com desvelo e mestria.

Assim, o mais provável é que os atabalhoados vendedores venham a concluir rapidamente que o sonho de que seja adotada por uma empresa de primeira linha se irá desvanecer, ficando condenados a sentarem-se à mesa com gente de latitudes mais longínquas.

Também é quase certo que ninguém se vai dispor a ficar com a companhia sem lhe serem prestadas todas as garantias para todas as contingências possíveis e imagináveis, o que significa que a meia dúzia de tostões que irão pagar na assinatura do contrato vão apenas servir para um discurso de autocongratulação dos nossos governantes. Logo no dia seguinte vão começar a cair as contas pelos incumprimentos e, no fim, não restará uma folha de couve.

É por isso que me parece que deve ser mantida em lume brando a hipótese de dar um telefonema ao nosso querido David Neeleman, que tem tudo para ser o parceiro ideal.

Para já, conhece a empresa e os seus bastidores e, ao contrário dos outros, não pode depois vir reclamar que foi enganado. Além disso já demonstrou que é perfeitamente capaz de satisfazer o ego dos governantes (com aquele número em que deu a maioria ao Estado e continuou a mandar) e, mais importante que tudo, foi o único tipo na terra que verdadeiramente ganhou dinheiro com a TAP, encaixando 55 milhões por uma empresa falida. Querem melhor?