CRÓNICAS E ENTREVISTAS

 QUEM NÃO SE IDENTIFICA COM AS PERSONAGENS DE DIVERTIDA-MENTE?
Publicado em: 23/07/2024
Acho que é um filme obrigatório para adolescentes, mas não para irem ver em bando com os amigos porque, nesse contexto, sabemos que nem olham para o ecrã.


Ana,

Venho só avisar-te de que o “Divertida-mente 2” não é para crianças, apesar da sala estar cheia delas quando o fui ver. Os mais pequenos aguentam entretidos porque é uma sequência rápida e colorida de imagens, mas o sentido passa-lhes completamente ao lado, nem podia ser de outra maneira porque é uma viagem espetacular ao cérebro de um adolescente, mas sobretudo o que nos acontece a todos quando a Ansiedade toma conta de nós.

Acho mesmo que é um filme obrigatório para adolescentes, mas não para irem ver em bando com os amigos porque, nesse contexto, sabemos que nem olham para o ecrã - o que interessa é a conversa com os amigos e as pipocas. Também não é para irem ver com os pais, porque é inevitável que os pais mandem uma boca do estilo “pelos vistos não és o único que ficou insuportável/mal criado”, o que os porá logo à defesa - parece-me que é um filme ideal para ir ver com uma tia querida!

Quanto aos pais, vão sozinhos, sem filhos, e vão sair dali não só aliviados por saber que o seu adolescente não é o único ser controlado pelas hormonas, como a sentir mais compaixão pelos seus miúdos. E por si próprios.

Boas férias!

***

Querida Mãe,

Concordo que é um filme perfeito para ir ver com uma tia querida, mas na verdade acho óptimo que também seja visto com os pais. É bom quando todos na mesma casa dão os mesmos nomes às mesmas coisas e mesmo que haja uma boca ou outra acho fantástico haver conversas sobre o Divertida-Mente e todas aquelas emoções. E não se esqueça, a cabeça de uma mãe também lá aparece, com todos os seus exageros e medos, o que pode ser verdadeiramente surpreendente para um adolescente que vê sempre os pais como seres desprovidos de sentimentos.

Quanto a não ser para crianças, não concordo, acho que é como aqueles bons livros “para crianças” que nós as duas não conseguimos parar de ler e de ter em casa. Têm muitas camadas e cada um absorve e se identifica com o que consegue no momento. O meu filho, que não é capaz de dizer uma palavra a pessoas que não conhece e a quem conseguimos ajudar a dar Hi-Five’s em vez de beijinhos para cumprimentar as pessoas, adorou o facto da emoção da “vergonha” cumprimentar com um hi-five também, enquanto a minha filha de 9 anos identificou-se com a altura em que a Ansiedade só “enviava” cenários maus para a Riley (a heroína) adormecer. Já eu identifiquei-me com a Alegria que, rodeada de emoções fortes, estava de forma forçada a tentar “puxar tudo para cima”, quando precisava era de chorar e de ser consolada.

Sei que muitas vezes se critica esta geração por estar demasiado concentrada na saúde mental, que parece que inventa patologias e nomes para tudo, mas bendito o dia em que um filme sobre emoções, sobre amizade, família e crescimento se torna no maior êxito de bilheteira da Pixar.



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