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CRÓNICAS E ENTREVISTAS
FAMÍLIA: A MINHA, A TUA E A NOSSA
Publicado em: 26/11/2024
Se [os cunhados] nos acolhem e aceitam, e nós também fazemos por isso, acabam por se tornar aliados nos desabafos, quase como uma válvula de escape para as nossas irritações.
Querida Mãe,
Toda a gente sabe que não é fácil, por muito amor que exista, juntar duas famílias quando duas pessoas se decidem casar. Há sempre formas diferentes de fazer as coisas, sensibilidades e maneiras de lidar com o conflito que podem não só ser diferentes como, até, diametralmente opostas! É mesmo assim e dos melhores conselhos que recebi antes de casar foi de um padre que nos preparou para o casamento, e que dizia: “Quando há tensões falem com o vosso marido para que seja ELE a falar com a respetiva família, e vice-versa”. Faz muita diferença receber uma critica de alguém de dentro ou de alguém de fora, que além do mais irá filtrar o que é mesmo necessário dizer, ajudando a estabelecer uma ponte entre realidades.
Mas, mãe, aquilo que não sabia que era tão importante, e que seria tão maravilhoso, era a descoberta dos cunhados/cunhadas! A cumplicidade que se pode criar com os cunhados, o apoio que podemos receber deles, é enorme porque os irmãos não têm medo de ver os defeitos uns dos outros, sem deixarem por isso de se defender até à morte, o que permite um espaço de liberdade sem sabor a deslealdade. Ou seja, conseguimos partilhar um olhar irritado quando o nosso marido está a ser teimoso ou condescendente, como quem diz “Ai, adoro o teu irmão mas ele é tão teimoso!” e receber uma resposta não verbal que o confirma: “Também o adoro mas, sim, desde miúdo que não dá o braço a torcer”. É que os cunhados, ao contrário dos sogros, não levam os nossos comentários como uma afronta à educação que lhe deram, nem como uma crítica ao ser humano que criaram.
Para além disto tudo sabem as melhores histórias e não têm pudor em contá-las, o que além de divertido, ajuda-nos a entender melhor a pessoa com quem casámos.
Mãe, resumindo e concluindo, tenho mesmo imensa sorte nos meus cunhados/as, naqueles que são irmãos do meu marido, mas, também, dos “apêndices” que, como eu, se juntaram à família e embora ninguém me tivesse avisado da importância que teriam na minha vida antes de me casar, percebi imediatamente que ou conquistava depressa a irmã mais nova do Eduardo ou nunca ia passar da porta da rua!!!
***
Querida Ana,
Cunhados!
Como é que em tantos anos de Birras de Mãe ainda não lhes tínhamos dedicado uma carta, sendo que tanto do futuro de um recém-chegado a uma família depende deles? Porque, como tu dizes, cada “apêndice” vem de uma casa com costumes e tradições que marcam muito mais do que os próprios julgavam até ao momento em que entram em contacto com uma tribo diferente. Por exemplo, se calhar não lhes passava pela cabeça que os rituais de Natal não eram “universais” — desde aquilo que se põe na mesa, até ao sentido que se dá à data — e, Ana, convenhamos que a tolerância para com os hábitos dos outros é muito diferente conforme estejamos de passagem ou para ficar. Mas é dessa integração do novo e do velho que vai resultar a identidade única da família que vamos criar em conjunto, e os cunhados são fundamentais nesse processo. Para o bem e para o mal. Se nos acolhem e aceitam, e nós também fazemos por isso, acabam por se tornar aliados nos desabafos, quase como uma válvula de escape para as nossas irritações, tornando-se, na verdade, melhores amigos. Caso contrário, podem ser uma barreira intransponível, levando a que quem chegou de novo se sinta sempre a mais, ou aquém do esperado, num desconforto que provavelmente acabará por: hipótese a) afastar o outro da sua família de origem, com consequências graves (mesmo que a princípio invisíveis), hipótese b) acabar num divórcio.
Conselhos milagrosos não tenho, porque há demasiados ingredientes complicados neste caldeirão, que aliás estão sempre presentes nas telenovelas, já reparaste? Desde os ciúmes da irmã, os pactos mãe/filha contra a namorada do menino da casa, a aliança entre sogro e nora, que tira a sogra do sério, há de tudo. Mas posso dar uma sugestão: conheça bem a família do outro antes de se comprometer e, se os anticorpos forem muitos, talvez seja melhor pensar duas vezes, porque é bem provável que com o passar do tempo ele se torne mais parecido com eles do que consigo. Contudo se, pelo contrário, sentir que aquela é a família que não teve e que sempre sonhou ter, invista nela de coração aberto e sem remorsos porque nem sempre temos a sorte de encontrar a nossa verdadeira família à primeira!
Mas, querida filha, não posso acabar esta carta sem te explicar porque é que ninguém te tinha “avisado” da mais-valia que são os cunhados: é que quando nasceste já tanto os meus, como os do teu pai, eram na realidade nossos irmãos, e os que vieram a seguir depressa se tornaram. Ainda bem que tiveste a mesma sorte (e agora um comentário de mãe babada, que deve ser lido com um sorriso: também querida como és, era o que mais faltava!)
Beijinhos
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