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CRÓNICAS E ENTREVISTAS
"GENDER GAP" NA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: AS MÃES TÊM MAIS QUE FAZER
Publicado em: 15/01/2025
Bastou-me ler o título da revista Time, que alertava para o facto de as mulheres estarem "atrasadas" no uso da inteligência artificial (IA) e mais ausentes do mundo digital, para ver imediatamente o filme todo.
Bastou-me ler o título da revista Time, que alertava para o facto de as mulheres estarem “atrasadas” no uso da Inteligência Artificial (IA) e mais ausentes do mundo digital, para ver imediatamente o filme todo. Ah, pois foi, não precisei de perguntar ao ChatGPT porque me chega a observação do universo de mães que me rodeiam. E se é mulher e mãe vai-lhe acontecer o mesmo, considerando as descobertas dos muitos estudos feitos sobre assunto como verdadeiramente de La Palisse. Mas, para benefício de todos os outros, aqui vão as conclusões dos especialistas: as mulheres estão a ficar para trás no uso destas “modernices”, tanto na sua vida profissional, como pessoal — já sofrendo por isso penalizações graves no mercado de trabalho — porque têm mais que fazer, evidentemente.
E por “mais que fazer” significa-se que, literalmente, estão ocupadas as vinte e quatro horas do dia, sete dias por semana, 365 dias por ano, e por muita vontade que sintam de andar a testar estas novas ferramentas, não lhes sobra tempo. É claro que têm consciência de que a IA e todos os artifícios digitais até lhes poderiam facilitar a vida, mas sabem que aprender implica uma fase de teste e erro, de repetição, que exige disponibilidade mental e espaço no disco rígido para processar nova informação. Coisa que lhes falta. Nem se podem dar ao luxo de lidar com o decréscimo de produtividade que acompanha inevitavelmente os primeiros passos. As mulheres, sobretudo as que são mães de filhos pequenos, andam com a vida presa por arames, num encadeamento de tarefas que não lhes permite grandes improvisos, sob risco de que, caso se desleixem no seu segundo emprego, toda a família se desmorone.
Mas antes que me acusem de exagerar, socorro-me das mais recentes estatísticas do uso do tempo por homens e mulheres em Portugal (e, pelo que vejo na Time, comum ao resto do mundo). A lista é longa, mas em início de um novo ano não faz mal a nada recordar que, apesar de tanto paleio sobre a igualdade, a partilha de tarefas continua a anos-luz de ser justa. Ora bem:
Preparar refeições diárias: 65% elas, 11% eles.
Limpeza da casa: 59% elas, zero eles.
Lavar e passar a roupa: 78% elas, zero eles.
Vestir filhos pequenos: 65% elas, zero eles.
Ajudar com os TPC: 46,5% elas, 9% eles.
Deitar os filhos: 45% elas, 8% eles.
Levar os filhos ao médico, 56% elas, zero eles.
Levar e buscar escola/creche: 36% elas, 20% eles.
Ficar em casa quando os filhos estão doentes: 64% elas, 9% eles.
Uf, podia continuar, mas depois não sobrava espaço para lhe dizer o que os entendidos aconselham para corrigir esta penalização de género. Diz a Time que as empresas devem oferecer às mulheres oportunidades — incluídas no horário laboral — para que aprendam e treinem estas competências, na certeza de que o investimento compensa. Já eu digo que enquanto as mulheres estiverem sobrecarregadas com os filhos e a casa (com uma quota de culpa própria, mas esse é tema para um próximo artigo), o gap só tenderá a aumentar. E para isso não convém, também, contar com uma indústria de Tecnologia Digital maioritariamente masculina, cuja coroa de glória foram a Siri e a Alexa para fazerem as vezes de “assistentes operacionais”, vulgo mãezinhas.
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