CRÓNICAS E ENTREVISTAS

 A PERIGOSA TRUPE DOS + DE 55
Publicado em: 12/02/2025
Estamos sempre a dar sermões aos jovens, a gritar aos quatro ventos que a geração está perdida e que "no nosso tempo é que era", mas afinal os mais perigosos – perigosos para si próprios e para os outros – estão entre aqueles que têm agora mais de cinquenta e cinco anos, escreve o The Economist.


Estamos sempre a dar sermões aos jovens, a gritar aos quatro ventos que a geração está perdida e que “no nosso tempo é que era”, mas afinal os mais perigosos — perigosos para si próprios e para os outros — estão entre aqueles que têm agora mais de cinquenta e cinco anos, escreve o The Economist. Esses sim, são os que correm demasiados riscos e precisam, urgentemente, de ser alvo de campanhas de esclarecimento sobre doenças sexualmente transmissíveis e toxicodependências, como o tabaco, o álcool e outras drogas.

Vamos ao sexo. No mundo ocidental os divórcios diminuíram pela simples razão de que há menos gente a casar, mas percentualmente são os mais velhos a separarem-se mais. Fazem-no, provavelmente, porque se atrevem a uma decisão que dantes seria inadmissível, mas também porque mantém a esperança de ainda virem a reencontrar a felicidade no amor, o que em não acontecendo pode deixá-los muito isolados. Seja por opção ou por imposição, o número de pessoas que vivem sozinhas a partir dos 60 anos cresceu exponencialmente, mas, segundo o The Economist, isso não significa que a sua vida sexual tenha terminado, e para isso contribuem não só os medicamentos para a disfunção erétil, como o uso de apps de encontros. Infelizmente, no entanto, faltaram à aula em que se explicava que o preservativo não previne apenas uma gravidez (que já não os preocupa!), como também as doenças sexualmente transmissíveis. O resultado é o aumento da gonorreia e da sífilis — por exemplo, no Reino Unido, o aumento nos mais de 65 anos é de 40% para a primeira e de 31% para a segunda, enquanto ambas decresceram entre os mais novos.

E agora as drogas. O consumo da cannabis cresceu na faixa etária dos mais de 55 anos em quase todos os países, com a Espanha à cabeça, sendo que percentualmente o maior aumento se deu na Alemanha. Cresceram também os consumos de cocaína e opiáceos, e as mortes por overdose, inclusivamente com Ecstazy, considerada uma droga de jovens — os mais velhos tendem a não usar os kits para testar o produto e informam-se e aconselham-se menos. Em Portugal, foram os homens entre os 40 e os 59 anos as principais vítimas. Quanto ao álcool, enquanto o seu consumo desce entre os mais novos, aumenta entre os mais velhos, que continuam a desvalorizar os seus efeitos, nomeadamente quando conduzem.

Mais Violência e Prisão: A frase “Tinhas idade para ter juízo” deixou de fazer sentido. Nos EUA, entre os homens detidos de 1992 a 2022, a percentagem de gente com mais de 50 anos triplicou, de 5% para 15%, segundo dados do FBI, e em termos absolutos o número cresceu em cerca de 40%, tendência que se encontra em muitos outros países. O The Economist recorda, ainda, que praticamente metade dos presos e condenados por invadirem o Capitólio tinha mais de 40 anos (o mais velho 81), demonstrando que isto das insurreições já não é coisa de miúdos.

Explicação: Esta geração está a envelhecer com mais dinheiro e mais tempo livre, vive até mais tarde e com mais saúde, tendo crescido num tempo de revolução de costumes e de invenções libertadoras, como a pílula contracetiva, que os tornaram mais predispostos ao risco. Os especialistas ouvidos pela revista, acrescentam um outro ingrediente que consideram decisivo: têm poucos (ou nenhuns) netos, o que leva a que passem muito mais tempo sem crianças e jovens à sua volta (o que provoca tédio e depressão). Se, por um lado, as creches e os jardins de infância deixaram-nos mais senhores do seu tempo, por outro, roubaram-lhes um certo sentido para a vida. Tudo somado, o resultado está à vista.