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CRÓNICAS E ENTREVISTAS
AS MÃES DÃO IDEIA DE ESTAREM A VIVER A MIL E OS PAIS A 100
Publicado em: 18/02/2025
Como viemos parar aqui? Esta emancipação da mulher limitou-se a acrescentar-lhe responsabilidades, sem abrir mão de nenhuma? E se assim foi, que papel deixámos ao pai?
Querida Mãe,
Estou na Disney! Sentada numa mesa de um hotel a tomar o pequeno-almoço rodeada de famílias com crianças. Deste lugar é muito difícil acreditar na ideia de que o mundo é liderado por homens e que ainda existem tantas mulheres que são por eles subjugadas – o que só mostra como devemos ter mesmo cuidado nas interpretações da realidade que fazemos a partir do nosso cantinho.
É que, por aqui, o mesmo cenário repete-se de três em três minutos: a mãe vem à frente com um bebé ao colo ou numa “mochila”, outro mais velho pela mão e dirige-se a passos largos e assertivos até à empregada que atribui as mesas. Atrás pode vir mais uma criança e, atrás dessa, finalmente chega o pai, a empurrar o carrinho, nesta altura vazio. A mãe vai dando instruções e fazendo pedidos à empregada que os veio servir. É ela que retira da carteira os bilhetes, os cartões, as reservas e o dinheiro. De vez em quando, passa o bebé para o pai ou pede-lhe que segure num dos mais velhos. Pede-lhe biberões e fraldas, que ele fornece solicitamente.
As mães dão ideia de estarem a viver a 1000 e os pais a 100. E, calma, não estou sequer a falar dos casos extremos de uma mãe insuportavelmente controladora e de um pai banana. Não, o que vejo aqui são apenas famílias normais, que aparentemente se dão bem e estão felizes. Mas seria certamente diferente do retrato de um restaurante do século passado.
Como viemos parar aqui? Esta emancipação da mulher limitou-se a acrescentar-lhe responsabilidades, sem abrir mão de nenhuma? E se assim foi, que papel deixámos ao pai? E como é que equilibramos tudo isto de uma maneira justa e verdadeiramente partilhada?
Somos nós que temos medo de largar as rédeas, ou são eles que, no esforço de nos dar espaço, correm o risco de sentirmos que nos abandonaram?
**
Querida Ana,
Adorei a tua reportagem e fico mesmo feliz por já estares “programada” para transformar as tuas experiências em Birras de Mãe, porque assim posso partilhá-las.
Esta foi a parte séria da resposta. A partir daqui dá o desconto, porque acordei com espírito de contradição e sem vontade de endireitar o universo, por muito que bem precise.
Ora bem,
Ponto 1 – Onde é que estava a avó nesta expedição a Paris? Em casa, claro, confortavelmente no sofá a assistir às loucuras de Donald Trump, ao lado das quais nada do que aconteça na Disney pode ser comparado. Mas, mesmo assim, sem filas de espera intermináveis ao frio e música estridente por todo o lado. E onde estava o avô desta história? Contigo e com a tua filha, claro. Ou seja, a moral deste conto é que essas mães têm ainda muito que aprender, mas, com sorte, a idade dar-lhes-á sabedoria semelhante à minha.
Ponto 2 — Parecem-me crianças a mais por família. Pronto, também tive três filhos, mas se voltasse atrás, não sei... o impossível seria escolher entre qual de vocês é que não existia. Adiante, parecem-me decididamente demais para levar a um parque de entretenimento e a jogada inteligente dessas mães que andam a mil era terem respirado fundo e enviado o pai com os filhos, que rapidamente seria obrigado a acelerar o conta-quilómetros. Podiam voltar apaixonados pela Branca de Neve, mas paciência.
Ponto 3 – Pedes-me que compare um restaurante do século passado com um atual – início, meio ou final? Porque a segunda metade é a da revolução das crianças no mundo ocidental, e até aí duvido que os pais as levassem com eles, muito menos bebés. Se tinham dinheiro para almoçar fora, também o teriam para uma empregada que ficava com os meninos; senão, não lhes passaria pela cabeça almoçar ou jantar fora. Fui a um restaurante pela primeira vez aos 16 anos, porque um dos teus tios generosamente me levou, mas quando vocês eram pequenos era diferente, e mesmo então era mais provável ser a mãe a tomar conta das crianças, e talvez o pai nem sequer empurrasse o carrinho (mas maioritariamente pagaria a conta).
Ponto 4 – É verdade que os pais têm um papel cada vez mais ativo no dia a dia, mas, se calhar, esses não foram à Disney. Estou a brincar. Mas já não estou quando respondo à tua outra pergunta: sim, acumulámos responsabilidades e temos uma enorme dificuldade em partilhá-las — preferimos mil vezes assumir o comando e “delegar” quando nos apetece o que, necessariamente, lhes tira frequentemente o tapete de debaixo dos pés.
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