BIOGRAFIA
•
LIVROS
•
PRESS
•
ALBUNS
•
AGENDA
•
DIAS DO AVESSO
•
CRÓNICAS E ENTREVISTAS
•
CONTACTOS
CRÓNICAS E ENTREVISTAS
PROCURA-SE CANDIDATO ÓRFÃO E SEM FILHOS
Publicado em: 26/03/2025
A única solução aceitável é a função pública desde o berço ou uma carreira política no partido, desde que tenha sabido evitar posições numa autarquia, pois ter de fazer coisas com ou sem concurso deixa sempre alguém insatisfeito.
A sério que não tenho paciência para novas eleições. Bastou o cheiro a urnas e à tinta fresca dos boletins para tudo ficar parado ou adiado, caindo como sopa no mel na legião de procrastinadores que povoam ministérios, repartições e serviços e que não deixam escapar um álibi para amontoar papéis na secretária. E ainda falta a dança das cadeiras, o cortar das cabeças dos recentemente empossados e, claro, os novos logótipos no papel de carta.
Mas já que tem mesmo de ser, então devemos ter regras claras sobre o candidato a quem vamos entregar o nosso voto, para não termos de ser martirizados daqui por meia dúzia de meses com a revelação de escândalos e passados comprometedores:
O candidato não deve ter pais — dão sempre um enorme sarilho, com o inconveniente que não podem ser omitidos, ou porque têm uma empresa, porque os puseram num lar, não lhe visitam a campa, estiveram presos, são importantes ou ricos, deram-lhes uma quota lá da sociedade.
O candidato não pode ser casado, porque se é mau ter uma esposa empresária, não é melhor que esteja empregada, sobretudo se tiver o desplante de ocupar um cargo numa grande empresa. Afinal quem lhe paga o ordenado não é quem lhe põe na mesa o bife do lombo? Como pode recusar o favor ao patrão da sua senhora se com isso põe em risco a economia doméstica e o colégio fino dos filhos? Decididamente tem de ser um celibatário — que mesmo que gere alguma desconfiança, garante mais sossego.
E decididamente não convém que tenha filhos, porque como está sobejamente visto e provado só trazem desgostos, ou pelo que fazem ou pelo que deixam de fazer, e os apelidos atraem as cunhas como moscas…
Não é boa ideia que cultive amizades, porque ter amigos já se viu no que dá. Nem assessores, porque há sempre o risco de usarem notas como marcadores de livros.
A vida amorosa deve ser inexistente, tanto no presente como no passado, porque ex-mulheres ou ex-maridos são uma fonte inesgotável de histórias e episódios pouco abonatórios para a função. Mas, por outro lado, se arrastam um casamento longo, também estão mesmo a pedir que o vão escarafunchar à cata de potenciais amantes.
Acima de tudo, o candidato não pode ter nem sombra de vida profissional ativa. Promoções, ações de formação, relações com clientes e fornecedores suscitam sempre muitas dúvidas. Então se tiverem montado uma empresa, a asneira é certa. Começa logo por termos de duvidar das suas capacidades e bom senso, porque como toda a gente sabe só um tipo muito estúpido é que alimenta a ilusão de conseguir passar pelas malhas da burocracia, da segurança social, das finanças e dos impostos, das fiscalizações e das letras pequenas da lei sem uma multa, um prazo incumprido, um papel em falta. Não há qualquer hipótese e até a Mariana Mortágua entendeu que, afinal, reduzir custos ou despedir alguém pode correr muito mal.
A única solução aceitável é a função pública desde o berço ou uma carreira política no partido, desde que tenha sabido evitar posições numa autarquia, pois ter de fazer coisas com ou sem concurso deixa sempre alguém insatisfeito.
É claro que há uma hipótese, que elimina a necessidade de todas as outras condições: a de já estar condenado na Justiça! Nesse caso, tem tudo para chegar a presidente dos EUA.
Leia no site do Jornal de Negócios »