PRESS

SET
11
 
 ENTREVISTA | ISABEL STILWELL
Jornalista e escritora, nunca escondeu que se define, antes de mais, como mãe e – desde 2010 – como avó. Oito netos depois (número que espera continue a crescer), garante que são o maior tratamento antirrugas que conhece. Eles desafiam a criatividade e a imaginação como mais ninguém, e funcionam como suplemento energético para aventuras que nem com os filhos teve! Por sua vez, contagia-os, sem cerimónias, com as suas maiores paixões: os livros, a jardinagem, os passeios fora de casa e, como não podia deixar de ser, a História de Portugal. É com imenso orgulho que partilhamos a entrevista a Isabel Stilwell. Vive em Sintra tem três filhos, dois enteados, duas noras, um genro, e um candidato a genro a que se juntam os oito netos, seis raparigas e dois rapazes.

Mãe ou Avó?
As duas coisas, decididamente. Aliás, há momentos, em que se fica entre a espada e a parede, porque uma parte de nós corre em socorro dos filhos, e a outra dos netos.

O que é para si ser Avó?
Retaguarda segura, segunda linha de ajuda prática e emocional, com o papel de garantir o contraditório, ou seja mostrar-lhes que há muitas maneiras de fazer e pensar as mesmas coisas. Gosto da ideia de ser avó jardineira de netos. Confesso que me apropriei do conceito de Alison Gopnik, autora de “Jardineiros e Carpinteiros”, em que nos diz que a ciência demonstra que as crianças crescem melhor quando não as tentamos “esculpir” à nossa maneira, e nos vamos limitando a apanhar as ervas daninhas, a podar aqui e ali e a deixar que encontrem o seu caminho.

O que aprendeu com os seus netos?
A tabuada, a voltar a olhar para as coisas que dou como adquiridas, a encontrar magia e surpresa onde nunca a procurei, ou tinha deixado de procurar, e depois coisas práticas: a fazer tranças no cabelo, a mexer no comando da televisão, a encarar a Matemática com menos medo, e ainda estou a aprender, mas é difícil, a recitar lenga-lengas e a fazer aqueles jogos de mãos e palmas, sem grande esperança confesso de ir aos Olímpicos da modalidade.

Qual o momento mais difícil que já viveu como Mãe? E como Avó?
Muito sinceramente, dos mais difíceis não vou falar. Mas diria que o mais difícil como mãe é conseguir manter a sanidade mental com falta de sono crónica, e excesso de trabalho. O cansaço faz desaparecer a flexibilidade, o sentido de humor, a capacidade de julgar os conflitos entre irmãos com equidade, põe-nos a discutir com marido e filhos por tudo e por nada, e depois é só fazer as contas para perceber o resultado em culpabilidade que resulta de tudo isto. Se voltasse atrás, acho que mudava algumas das minhas prioridades.
Como avó, o mais difícil é assistir a conflitos entre pais e filhos sem intervir. E, claro, a manter um silêncio inteligente quando não concordamos com algumas das “regras” dos pais.

Como quer que os seus filhos a recordem daqui a 40 anos? E os seus netos?
Que engraçado, penso tantas vezes nisso, e com os meus netos sinto mesmo que estou a “trabalhar” para as memórias — daí nasceu “O Frasco das Memórias - Avós e Netos, ideias para fazerem juntos”, que acabei de publicar, com a colaboração direta das minhas netas mais velhas, a Carminho e a Madalena. Porque se me parece que na memória dos meus filhos estou garantida, para o bem e para o mal, na dos meus netos não tenho a certeza. E queria muito ficar-lhes na memória como alguém que as ama apaixonadamente, para quem eles são o melhor do mundo, alguém com quem fizeram coisas diferentes e inesperadas, associando-me a rituais especiais como banhos de imersão, mangueiradas, passeios no campo, e ao prazer da jardinagem. Mas, também, de alguém que acreditava que temos a obrigação de colocar os nossos talentos a funcionar para construir um mundo melhor.

Qual o momento mais especial da sua vida?
São tantos. Mas embora tenha imensos momentos especiais como jornalista e escritora, acho que os mais importantes mesmo são os de família.

Qual o seu Lema de vida?
Encontrar sempre o lado bom (e divertido) de todas as pessoas e coisas.

O que ainda lhe falta fazer?
Falta-me aceitar que nem toda a gente pode estar sempre feliz ao mesmo tempo.

Uma mensagem para as outras Avós:
Vivam momentos especiais com os netos, depois passem-nos a escrito e guardem-nos num Frasco de Memórias. A revisitar constantemente.

E por fim uma mensagem para os seu filhos e netos:
A vida é uma dádiva que vale a pena, mesmo nos dias em que isto parece mentira. Nesses, visitem-me e lemos juntos umas páginas do Winnie the Pooh.

Obrigada Isabel pela partilha!